segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O Capitalismo Natural e a construção de edifícios

O Capitalismo Natural e a construção de edifícios

Por Mário Hermes Stanziona Viggiano

Construir prédios de baixa emissão de gases de efeito estufa e consumo de materiais de reduzido impacto ambiental fazem parte de uma tendência de consenso, extremamente lógica, que se insere em uma “filosofia” capitalista que alguns autores chamam de Capitalismo Natural. (1)

O conceito remonta à década de 1990, com o livro The Ecology of Commerce, de Paul Hawken, que, simultaneamente com os estudos de Amory e Hunter Lovins, forjaram o termo Capitalismo Natural em publicação, com o mesmo nome, de 1999:

“No próximo século, com a população duplicada e os recursos disponíveis per capita reduzidos à metade ou em três quartos, pode ocorrer uma transformação notável na indústria e no comércio. Graças a essa transformação, a sociedade terá condições de criar uma economia vital que consuma radicalmente menos material e energia. Tal economia será capaz de liberar recursos, reduzir o imposto de renda das pessoas físicas, aumentar a despesa per capita na solução dos problemas sociais (ao mesmo tempo que restringe tais problemas) e começar a reparar os danos causados ao meio ambiente. Essas transformações necessárias, se implementadas adequadamente, promoverão a eficiência econômica, a preservação ambiental e a justiça social.” (HAWKEN, 2007).

O conceito matriz de Capitalismo Natural, abrange quatro princípios:

1. Produtividade radical dos recursos – obtenção de produtos e processos de melhor qualidade utilizando menos trabalho e muito menos energia e recursos naturais. Como exemplo temos os materiais e sistemas que operam com várias funções, como os telhados fotovoltaicos que protegem a edificação e geram energia;

2. Biomimetismo – transformação eficiente dos materiais, equipamentos e processos de forma a reduzir o desperdício a partir do redesenho nos moldes de linhas biológicas com a reciclagem total dos materiais. Exemplo dos processos de reúso de águas que chegam a proporcionar três diferentes e sucessivos usos distintos antes do descarte;

3. Economia de serviço e fluxo – transformação da relação capitalista de possuir os bens para o conceito de adquirir os serviços e benefícios do bem. Um bom exemplo da economia de serviço e fluxo são os contratos de outsourcing de cópias e impressão nos quais a instituição contrata os serviços de uma empresa que coloca à disposição as impressoras nos locais determinados pela contratante e se responsabiliza pela manutenção, troca e reposição, recebendo somente o valor apurado relativo ao número de cópias e impressões.

4. Investimento em capital natural – reinvestimento na sustentação, restauração e expansão do capital natural através da manutenção e recuperação do Patrimônio Natural (matas, rochas, cursos d’água, biodiversidade etc). Exemplo das agroflorestas urbanas implantadas em áreas degradadas que absorvem o gás carbônico e simultaneamente produzem alimento humano e animal, além de incrementar a biodiversidade. (HAWKEN, 2007)

(1) Muitas vezes confundido com o termo midiático Economia Verde.


Trecho extraído do livro PROJETO DE EDIFÍCIOS PÚBLICOS SUSTENTÁVEIS, que pode ser baixado gratuitamente em:

https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/562746

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