Sobre mordaças e
antolhos
Por Mário Hermes Stanziona
Viggiano
A fúria
neoliberal dos defensores dos agrotóxicos, que culminou com a recente
irresponsabilidade na autorização do uso de venenos condenados em outras terras
reflete uma atitude governamental que prejudica, inclusive, o próprio
agronegócio.
Ao saturar o
solo de venenos, o agricultor elimina a micro fauna responsável pelo auto
enriquecimento nutricional, além, é claro, de envenenar todos os outros seres,
inclusive nós.
Os
agricultores inteligentes, e nessa classe incluo alguns do grande agronegócio -
já que burrice não tem a ver com o tamanho da terra - sabem que a
compatibilização do Sistema Agroflorestal com a monocultura é um excelente
negócio.
Proteger as
nascentes da fazenda e criar corredores verdes nos quais são plantadas árvores
nativas, frutíferas, forrações comestíveis e flores, vai gerar um estoque de
matéria orgânica que pode ser revertido para o enriquecimento do próprio solo
da cultura, além de atrair os pequenos e médios animais que estercam sobre esse
húmus, enriquecendo-o mais ainda.
Sem a
necessidade dos químicos, a Agrofloresta atrai e se encarrega de minimizar os
danos dos insetos nocivos às culturas de alimentos, já que a sua biodiversidade
oferece um cardápio muito mais atrativo para as pragas se alimentarem. A
Agrofloresta atrai também os insetos benéficos, como as polinizadoras abelhas.
Não podemos
esquecer que o Sistema Agroflorestal proporciona ainda, uma renda extra para ao
agricultor, mantida pela colheita de diversos alimentos cultivados, muitas
vezes, com um manejo muito simples.
Esse debate
extrapola o sectarismo radical entre a esquerda e a direta, entre o orgânico e
o agronegócio, governo e oposição. Torna-se um assunto de sobrevivência de
nossa espécie.
Acredito que
podemos encontrar um “caminho do centro” que viabilize o convívio da
diversidade. A floresta produtiva convivendo com a grande produção de
alimentos.
Ah, os
radicais. Quase me esqueço deles!
Não adianta
colocar-lhes mordaças, pois isso seria antidemocrático. Precisamos sim, retirar
os antolhos que já vieram modelados, de fábrica.
Brasília,
26/05/2019